sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

#26 - NATAL DE POBRES (Leonel Neves)

Quando a mulher adormeceu
naquela noite de Natal,
o homem foi, pé ante pé,
pôr um sapato (dela, não seu)
com um embrulho de jornal
na lareirinha da chaminé.

Um casal pobre... um ano mau...
Era um pedaço de bacalhau.

Ora alta noite, pela janela,
com fome e frio, entrou um gato
que, no escuro, cheirando aquela
comida boa no sapato,
rasgou o embrulho, comeu, comeu
e, quente e farto, adormeceu.

De manhã cedo, ela acordou,
foi à cozinha e viu o gatinho
adormecido no seu sapato.
Voltando ao quarto, feliz, falou
para o seu homem: -- Meu amorzinho,
como soubeste que eu queria um gato?

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

#25 - O RAPAZ DO TRAPÉZIO VOADOR, António José Forte

O rapaz do trapézio voador
chegou à cidade numa tarde de grande calor
entrou num café pediu um licor

pediu outro e outro ainda
ao todo sete licores
cada um da sua cor
cada qual da cor mais linda

ao sétimo licor
sentiu uma dor
teve um sorriso amarelo
que ninguém aplaudiu
deu três voltas e caiu.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

#24 - JOANINHA, Sidónio Muralha

A joaninha bonita
que mora a meio do caminho
da rua das violetas
tem um vestido de chita
todo ele encarnadinho
e cheio de bolinhas pretas.

E quando a gente lhe diz:
-- «Joaninha voa, voa,
não me digas que tens medo,
se voas serás feliz
que o teu pai está em Lisboa
foi lá comprar um brinquedo...»

A joaninha responde:
«Se és amigo verdadeiro
não me digas voa, voa,
-- voar sim, mas para onde? --
o meu pai não tem dinheiro
para ter ido a Lisboa...»

E a joaninha bonita
lá se fica no caminho
da rua das violetas
com um vestido de chita
todo ele encarnadinho
e cheio de bolinhas pretas...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

#23 - ZUMBIDO, Alice Gomes


A menina andava no jardim
a dançar com o jasmim.

O menino andava no pomar
as cerejas a provar.

Um zângão surgiu
a menina fugiu.

O menino mexeu na colmeia.
Que coisa tão feia!...

O enxame irritou.
O zângão
zangado
atacou
e uma abelha picou.

A mão do menino inchou
mas ele não chorou.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

#22 - PINGUIM, Alice Gomes

Pin...guim!
Pin...guim!
vai devagar
marca o compasso

Pin...guim!
Pata aqui
Pata ali
acerta o passo

veste sempre de cerimónia
camisa branca
casaca prtea
sem uma prega
no colarinho

Pinguim!
Pinguim!
Parece um homenzinho...

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

#21 - A UMA CABRINHA VISTA EM BISSAU, Luís Filipe Castro Mendes

Se estivesse aqui Matilde
eu dava-lhe esta cabrinha,
com o seu focinho humilde
e a altivez duma rainha.

Cabrinha de jeito bom
a fugir pelo telhado,
caladinha no seu tom
de sobrolho carregado.

Cabrinha como tu, filha,
estrela oculta nestes versos,
que perdura e que cintila
sobre céus e ares diversos.